- Janaúba tem apenas 10
leitos de CTI para adultos e 10 para recém-nascidos, nenhum para crianças entre
um mês e 12 anos de idade
- Se o poder público se
tornar ágil e eficiente e a iniciativa privada se mostrar proativa e
empreendedora pela vida, reestruturamos nosso sistema de serviços de saúde e
seremos autossuficientes nesta área essencial e nossa economia não será
destruída pela fragilidade de um setor
*Por Helvécio Campos Albuquerque
Foto Oliveira Júnior
Helvécio
Campos Albuquerque, Médico Pediatra.
Essa é uma semana
vitoriosa para a saúde pública da Serra Geral de Minas. Um paciente com
síndrome respiratória aguda grave devido ao Covid 19 foi curado no Hospital
Regional de Janaúba. Demos Graças a Deus e à equipe que o curou.
Contudo, e se fossem 10
pacientes que chegassem ao mesmo tempo, digamos 8 adultos e 2 crianças, temos
apenas 10 leitos de CTI para adultos, e 10 para recém-nascidos, nenhum para
crianças entre um mês e 12 anos de idade. É sabido que a taxa de ocupação de
CTI em nosso país é de 73%. Então,
teríamos 3 leitos disponíveis para tratar pacientes graves com
necessidade de intubação e poderíamos dar assistência a 3 adultos com Covid e
nenhuma criança, portanto ,perderíamos por falta absoluta de estrutura
hospitalar cinco adultos e duas crianças ( quem faria a escolha de Sofia, quem
salvar , quem abandonar para morrer? E isso nos remete à pandemia e ao
isolamento social. Sim, por que exatamente é preciso isolamento social? Bem,
são basicamente duas razões. A primeira, a alta transmissibilidade do vírus (não
sua letalidade, sua capacidade de matar), 85% das pessoas podem ser
assintomáticas ou ter sintomas leves, 15% terão sintomas moderados ou graves e
5% desses precisarão de ventilação mecânica (CTI). É por causa desse grupo de
pessoas, casos moderados e graves, a segunda causa do isolamento. Pois, se
milhares forem contaminados, esses 15% colapsarão o sistema de saúde. Porque
esse sistema, está há décadas sendo sucateado (saúde é direito de todos e dever
do estado diz nossa constituição, mas isso há muito foi colocado em último plano
(por falta de vontade política, por insuficiência técnica das autoridades
sanitárias, pela corrupção...).
Consequência imediata, MILHARES DE VIDAS PERDIDAS, secundária, derrocada
econômica e outras tantas vidas ou até mesmo muito mais vidas serão ceifadas
pela fome, ou violência oriunda do desemprego que seguirá. Em última instância,
a economia se deteriora, não porque
existe uma pandemia, mas porque nosso sistema de saúde não consegue dar
resposta à necessidade de assistência da população que desenvolve casos de
maior gravidade. Entretanto, a pandemia veio despertar a todos para a
necessidade de mudança de postura e de reação (É PRECISO REESTRUTURAR O SISTEMA
DE SAÚDE). Houve uma resposta dos governos centrais e em alguns casos da
iniciativa privada (só uma instituição financeira disponibilizou um bilhão de
reais para estruturar hospitais). Recursos estão chegando às prefeituras para
que a rede assistencial de saúde seja estruturada. Só em Janaúba, por exemplo ,
os recursos que foram disponibilizados há cerca de dois meses, estão parados
nos cofres públicos da prefeitura e que já deveriam estar sendo usados para
compra de aparelhos que aumentariam a capacidade de resposta à pandemia por
nossos hospitais e unidades de saúde , mas por diversas razões que não são o
objeto deste texto , não chegaram aos serviços e se os pacientes necessitarem ,
muito menos a eles. Analisemos, minimamente os parâmetros de leitos para
urgência e emergência, para entendermos a situação de nossa rede hospitalar em
Janaúba (que serve à toda Serra Geral de Minas). Segundo o ministério da saúde
o parâmetro de leitos para urgência/ emergência é de 1 leito para cada mil
habitantes. Se a Serra Geral de Minas, tem cerca de 300 mil habitantes,
precisamos de 300 leitos hospitalares e o parâmetro de UTI é 1 leito para 10
mil habitantes, portanto deveríamos ter minimamente 30 leitos de UTI. Bem,
temos 68 leitos na Fundajan (responsável pela saúde de gestantes de alto risco
e das crianças de alto risco). Temos 98 leitos no hospital Regional (responsável
pela urgência/ emergência de todo restante da população). São 166 leitos, pouco
mais da metade da real necessidade. Não estamos falando de pandemia, quando
esses parâmetros são exponencialmente elevados. ESTAMOS COM METADE DA
CAPACIDADE INSTALADA PARA TEMPOS NORMAIS e com um parque tecnológico (aparelhagem
médica) muitas vezes defasado E para tempos pandêmicos, o que fazer? E pior, existem vários outros vírus e
bactérias candidatos às pandemias, monitorados pelos centros de controle de
epidemias mundo a fora. O covid19 não é o primeiro e nem será o último. O FATO
É QUE NÃO ESTAMOS PREPARADOS PARA A ASSISTÊNCIA EM TEMPOS NORMAIS, MUITO MENOS
PARA ESSA PANDEMIA OU PARA AS QUE AINDA VIRÃO... Mas pergunto, vamos fazer o
que diante do que nos ensina a pandemia? Vamos continuar letárgicos e
ineficientes ou vamos exigir das autoridades agilidade e proficiência e vamos
também sociedade civil tirar a mão dos bolsos e contribuir (ou nosso sistema
financeiro não é sensível às necessidades de saúde e da vida de nossa
comunidade?). A Fundajan tem um projeto para ampliação de seus leitos de 68 pra
120 (com ampliação de centro cirúrgico e nova área para serviços de imagem
inclusive), e o Hospital Regional pode e deve ser ampliado para no mínimo um
total de 180 leitos. Para todo problema há uma solução. Se o poder público se
tornar ágil e eficiente e a iniciativa privada se mostrar proativa e
empreendedora pela vida, reestruturamos nosso sistema de serviços de saúde e
seremos autossuficientes nesta área essencial e nossa economia não será
destruída pela fragilidade de um setor. A escolha é nossa, nos permitimos ao
flagelo de vírus e bactérias, ao desemprego e a fome ou nós fazemos gestores
públicos eficientes e empreenderes com responsabilidade social. SIMPLES ASSIM.
Não precisamos de heróis, precisamos de compromisso com o bem comum. Quem sabe
faz a hora, é hora das mãos em obras, obras agora em nossas unidades de saúde (hospitalares
ou não) para não sermos fazedores de obras em cemitérios. Não cavemos covas
para enterrar nossos familiares, construamos leitos para que eles tenham vida.
*Helvécio Campos de
Albuquerque - médico.
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