FUNORTE FACULDADES DE JANAÚBA

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QUEM ERA A PROFESSORA QUE MORREU SALVANDO CRIANÇAS NA CRECHE DE JANAÚBA

A PROFESSORA HELLEY MORAVA EM NOVA PORTEIRINHA E AGUARDAVA A APROXIMAÇÃO DA FORMATURA DO MARIDO EM ODONTOLOGIA


AMI­GOS E CO­LE­GAS ENALTECEM O CARINHO DA PROFESSORA HELLEY COM AS CRIANÇAS


Foto álbum de família
Helley morreu fazendo o que mais gostava: ensinar seus alunos.
JANAÚBA (por Luiz Ribeiro) – O pro­fes­sor, cu­jo dia se­rá co­me­mo­ra­do no pró­xi­mo dia 15, tem co­mo mis­são a ar­te de ensinar. Mas a pro­fes­so­ra He­l­ley Abreu Ba­tis­ta, de 43 anos, foi mui­to além dis­so: uma ver­da­dei­ra heroína. Ao ten­tar sal­var seus alu­nos e lu­tar con­tra o vi­gi­lan­te Da­mi­ão So­a­res dos San­tos, de 50, que ateou fo­go na cre­che Gen­te Ino­cen­te, na ma­nhã de quin­ta-fei­ra, em Ja­naú­ba, no Nor­te de Mi­nas, ela sa­cri­fi­cou a pró­pria vi­da em de­fe­sa das cri­an­ças e, com is­so, im­pe­diu que a tra­gé­dia que cho­cou o Bra­sil e o mun­do fos­se ain­da maior.
O cor­po de He­l­ley foi en­ter­ra­do na tar­de de sex­ta-fei­ra, dia 6, em Ja­naú­ba, com o ve­ló­rio sen­do acom­pa­nha­do por cen­te­nas de pessoas. O cor­po foi tras­la­do até o ce­mi­té­rio em um car­ro aber­to do Cor­po de Bom­bei­ros e en­ter­ra­do sob aplausos. Ela dei­xou três fi­lhos: Bre­no, de 15, Lí­via, de 12; e o be­bê Ola­vo, de um ano e três meses.
Uma pro­fis­si­o­nal de­di­ca­da, cu­jo em­pe­nho trans­cen­dia o sa­lá­rio de cer­ca de R$ 1,5 mil co­mo pro­fes­so­ra mu­ni­ci­pal em Janaúba. Es­se é o per­fil de He­l­ley Abreu, que, de­vi­do à sua bra­vu­ra e co­ra­gem, ga­nhou o no­ti­ci­á­rio do Bra­sil in­tei­ro pe­lo es­for­ço que de­sem­pe­nhou na ten­ta­ti­va de sal­var as cri­an­ças do in­cên­dio na cre­che, o que aca­bou le­van­do à per­da de sua vida.    
He­l­ley foi uma pes­soa mar­ca­da pe­la superação. In­te­gran­te de uma fa­mí­lia de três ir­mã­os, ela nas­ceu em Mon­tes Cla­ros (ci­da­de po­lo do Nor­te de Mi­nas) e, ain­da na ju­ven­tu­de, mu­dou-se pa­ra Ja­naú­ba, on­de o pai, Jo­ão Ro­dri­gues da Sil­va (já fa­le­ci­do), ar­ru­mou um em­pre­go nu­ma lo­ja de móveis. Com pou­co mais de 20 anos, ca­sou-se com Lu­iz Car­los Batista. Ain­da na ju­ven­tu­de, ex­pe­ri­men­tou uma gran­de tra­gé­dia pessoal. Du­ran­te uma fes­ta de car­na­val, foi com a fa­mí­lia pa­ra um clu­be no bal­ne­á­rio Bi­co da Pe­dra, on­de o pri­mei­ro fi­lho de­la, Pa­blo, de 5, mor­reu afo­ga­do na pis­ci­na do clube. “Foi mui­to difícil. To­do mun­do da fa­mí­lia fi­cou mui­to chocado. O meu cu­nha­do até pen­sou em fa­zer uma bes­tei­ra. Mas a He­lly su­pe­rou”, re­lem­bra o ser­ra­lhei­ro Pau­lo Ro­gé­rio Abreu, ir­mão da pro­fes­so­ra heroína.
Com a per­da da ir­mã, Pau­lo Ro­gé­rio fi­cou desconsolado. “Não tem o que falar. Não te­nho pa­la­vras pa­ra di­zer, (a mor­te de He­l­ley) é uma coi­sa mui­to trágica. Nin­guém es­pe­ra­va que pu­des­se acontecer. Ela tam­bém não me­re­cia uma coi­sa dessa. Ela era re­al­men­te mui­to de­di­ca­da à fa­mí­lia e ao tra­ba­lho”, dis­se.
DE­DI­CA­Ç­ÃO
For­ma­da em pe­da­go­gia, He­l­ley co­me­çou a tra­ba­lhar há al­guns anos co­mo pro­fes­so­ra mu­ni­ci­pal em No­va Por­tei­ri­nha, se­pa­ra­da de Ja­naú­ba pe­lo rio Gorutuba. Ini­ci­al­men­te, tra­ba­lhou na zo­na ru­ral. De­pois, tra­ba­lhou na Es­co­la Es­ta­du­al Lu­zia Men­des, no bair­ro Den­te Gran­de, área de bai­xa ren­da de Janaúba. No ano pas­sa­do, co­me­çou o ser­vi­ço na cre­che Gen­te Ino­cen­te, no bair­ro Rio No­vo, em Ja­naú­ba, fa­zen­do aqui­lo de que mais gos­ta­va: de­di­car-se às crianças.
Mo­ra­va em No­va Por­tei­ri­nha e to­dos os di­as atra­ves­sa­va a pon­te so­bre o rio Go­ru­tu­ba pa­ra cui­dar de “su­as cri­an­ças”, co­mo as considerava. Não gos­ta­va de fal­tar ao trabalho. Tam­bém fez cur­so de es­pe­ci­aliza­ção na área edu­ca­ci­o­nal, bus­can­do co­nhe­ci­men­to na área da in­clu­são de pes­so­as com deficiências.
No en­ter­ro de He­l­ley, o ma­ri­do de­la, Lu­iz Car­los Ba­tis­ta, fez au­men­tar a emo­ção, quan­do, aos pran­tos, en­con­trou for­ças pa­ra men­ci­o­nar as qua­li­da­des da mulher. “Ela se foi por sal­var vi­da das crianças. Acho que a mis­são de­la era es­ta, sal­var vidas. Mes­mo so­fren­do, eu te­nho que aceitar. Foi por obra de Deus. E Deus é jus­to”, afir­mou Lu­iz Carlos. Ele afir­mou que He­l­ley con­si­de­ra­va os alu­nos da cre­che co­mo ver­da­dei­ros fi­lhos, “em­bo­ra eles não fos­sem fi­lhos bi­o­ló­gi­cos de­la”.
Lu­iz Car­los tam­bém con­tou que, na vés­pe­ra da tra­gé­dia, uma ami­ga de He­l­ley dis­se que ela não de­ve­ria ir na cre­che no dia se­guin­te, por­que es­ta­va mui­to rouca. “Mas ela res­pon­deu: ‘Eu te­nho que ir pa­ra cui­dar dos meus (as cri­an­ças). Não pos­so fal­tar”, com­ple­tou o ma­ri­do de Helley. Nos úl­ti­mos di­as, a pro­fes­so­ra tam­bém es­ta­va mui­to emo­ti­va por cau­sa das co­me­mo­ra­çõ­es da Se­ma­na da Criança.
RE­CO­NHE­CI­MEN­TO DE AMI­GOS E CO­LE­GAS
“Ela era uma pes­soa mui­to dedicada. Ado­ra­va o que fa­zia. Nas­ceu pa­ra ser professora. Nem pa­re­cia que ti­nha en­fren­ta­do al­gum so­fri­men­to na vi­da”, afir­ma Eli­za­be­th Fer­nan­des, co­le­ga de tra­ba­lho e mui­to ami­ga de He­l­ley, re­fe­rin­do-se ao epi­só­dio vi­vi­do por ela com a per­da do fi­lho Pablo. “A He­l­ley sem­pre an­da­va com um sor­ri­so no ros­to”, com­ple­ta Elizabeth. Se­gun­do ela, ul­ti­ma­men­te, a pro­fes­so­ra es­ta­va mui­to fe­liz com a pro­xi­mi­da­de da re­a­li­za­ção de um so­nho: a for­ma­tu­ra do ma­ri­do no cur­so de odontologia.
A pro­fes­so­ra Eu­ni­ce Ba­tis­ta Bor­ges é ou­tra que enal­te­ce as qua­li­da­des da co­le­ga mor­ta na tra­gé­dia em Janaúba. “Ela era uma pes­soa mui­to prestativa. Era uma pes­soa ex­ce­len­te, mui­to com­pa­nhei­ra mes­mo”, diz. “A He­l­ley era uma pes­soa exem­plar, ami­ga de to­dos os mo­men­tos, das ho­ras bo­as e das ho­ras di­fí­ceis tam­bém”, des­ta­ca Sil­vi­nha Fer­rei­ra, tam­bém pro­fes­so­ra na cidade.
As co­le­gas de tra­ba­lho da pro­fes­so­ra He­l­ley na cre­che Gen­te Ino­cen­te tam­bém enal­te­ce­ram o tra­ba­lho e com­pa­nhei­ris­mo da heroína. “Era uma pes­soa que ti­nha mui­to amor pelas crianças. Além dis­so, era mui­to res­pon­sá­vel”, afir­mou a pe­da­go­­ga Eli­a­ne San­tos, que na quin­ta-fei­ra, dia do ata­que à cre­che, es­ta­va de fol­ga e não foi ao trabalho.
A au­xi­li­ar Mi­re­l­le Bri­to, tam­bém fun­ci­o­ná­ria da cre­che, en­che He­l­ley de elogios. Mi­re­l­le con­ta que, na quin­ta-fei­ra, He­l­ley es­ta­va mui­to alegre. “Ela dis­se que iria brin­car com as cri­an­ças e en­si­nar zum­ba pa­ra elas”. In­fe­liz­men­te, a dan­ça não ocorreu. Mi­re­l­le tra­ba­lha­va na cre­che no dia da tra­gé­dia e es­ca­pou por­que es­ta­va com um gru­po de cri­an­ças, “que to­ma­vam ba­nho de man­guei­ra” após brin­ca­dei­ra em ca­ma elás­ti­ca, no pá­tio do cen­tro de edu­ca­ção infantil.
A co­ra­gem e bra­vu­ra da pro­fes­so­ra He­l­ley Abreu tam­bém im­pres­si­o­nou os mo­ra­do­res de Janaúba. “Acho que ela foi uma guer­rei­ra, uma he­ro­í­na, que re­al­men­te mor­reu por lu­tar no meio do fo­go pa­ra de­fen­der as cri­an­ças”, dis­se o pe­drei­ro Ar­ley Alves, de 31, que tam­bém aju­dou a sal­var as cri­an­ças da cre­che du­ran­te o incêndio. Ar­ley con­ta que a pro­fes­so­ra po­de­ria “ter saí­do cor­ren­do” quan­do viu as cha­mas den­tro da sa­la de aula. “Mas, ao con­trá­rio, ela per­ma­ne­ceu lá, aju­dou a sal­var as cri­an­ças e en­fren­tou o ca­ra (o vi­gi­lan­te Da­mi­ão). Por is­so te­ve o cor­po to­do queimado.
A apo­sen­ta­da Ma­ria Apa­re­ci­da Miranda, mo­ra­do­ra do bair­ro Rio No­vo, on­de fi­ca a cre­che e tam­bém lo­cal de mo­ra­dia de gran­de par­te das ví­ti­mas da tra­gé­dia, dis­se que não co­nhe­ceu a pro­fes­so­ra He­l­ley, mas es­tá re­zan­do mui­to por ela. “Com cer­te­za, ela se­rá mui­to re­ce­bi­da por Nos­sa Se­nho­ra no céu”, dis­se Ma­ria Aparecida. E as­sim He­l­ley par­tiu co­mo heroína. Ga­nhou o céu e dei­xou um gran­de exem­plo de lu­ta e amor às crianças. (Fonte: jornal Estado de Minas e portal Uai)

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