Augusto “Bala Doce” com os jornalistas Aldeci Xavier, Luís
Carlos Novaes, o Peré e Christiano Jilvan: Encontro da Imprensa do Norte de
Minas em 2013.
MONTES
CLAROS (por Oliveira Júnior*) – Faleceu neste domingo, dia 22 de outubro, o
advogado Augusto José Vieira Neto, o “Augustão Bala Doce”, como era mais
conhecido. Aos 72 anos de idade, ele não resistiu à enfermidade e foi
encontrado morto em seu apartamento, no bairro Morada do Sol, na cidade de
Montes Claros, onde nasceu em 25 de fevereiro de 1945.
Augusto
“Bala Doce” foi Juiz de Direito pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, além
de ter sido advogado, escritor, professor universitário e ainda vereador por
Montes Claros, época em que foi líder do prefeito Antônio Lafetá Rebello.
Augusto foi professor e Diretor da Faculdade de Direito da FUNM (hoje
Unimontes), ex-presidente da 11a. Subseção da OAB/MG.
“Bala
Doce” casou duas vezes e teve três filhos. “Torço pelo Galo, sem ter antipatia
do Cruzeiro e do América, dos quais fui atleta de basquete, na juventude”,
citou em uma das suas publicações em rede social. Augustão partiu eternamente
sem presenciar, na tarde deste domingo, a vitória do seu Atlético diante do
maior rival, o Cruzeiro.
O
falecimento de Augustão “Bala Doce” ocorreu 17 dias após completar três anos do
falecimento do seu amigo Luís Carlos Vieira Novaes, o Peré, que nos despediu
eternamente em 5 de outubro de 2014. No dia 21 de novembro de 2014, um mês e
meio após a partida do amigo Peré, Augusto havia publicado em sua página na
rede social um texto do Luís Carlos Novaes (Peré) quando esse retrata os
escritos do juiz aposentado e escritor “Bala Doce”.
Foto
Oliveira Júnior
Colunista Maicon Tavares, Júlio César “Zé Gúi” Soares e
Augusto “Bala Doce”: dezembro de 2013.
A
VIDA DE AUGUSTO “BALA DOCE” ESCRITA POR ELE
Meu
nome completo é Augusto José Vieira Neto. Meu apelido, desde os treze anos, é
Bala Doce. Tratam-me também por Bala ou Balinha. Nasci na cidade norte-mineira
de Montes Claros, num domingo, dia 25 de fevereiro de 1945. Toco piano e
violão. Compus duas músicas (fiz também as letras): a primeira chama-se Amigo
Zé, em homenagem ao maior amigo que tive em sua vida, José Carlos Novaes da
Mata Machado, o “Veião”, assassinado pela ditadura, em outubro de 1973. A
segunda se chama Voz Operária, (a letra tem a parceria do “Veião” e de meu
filho, o Combat). Essa canção foi censurada num Festival Universitário da
Canção, no Rio de Janeiro e, depois, num Festival Estudantil, em minha terra
natal. Sou parceiro de Heitor de Pedra Azul na letra da música “Naquela Casa”;
de Carlos Maia, na letra da música “Estrela Guia” e de Tone Noel, na letra da
música “Noite Infeliz”.
Estudou
na Universidade de Harvard
Até
o antigo curso científico estudei em minha terra, com dois períodos fora: um
com os salesianos do Colégio D. Bosco, de Cachoeira do Campo, MG; outro, com os
franciscanos, do Colégio Santo Antônio, de Belo Horizonte. Fiz cursinho
pré-vestibular no Champagnat, de Belo Horizonte e fui aprovado nos vestibulares
de Direito das universidades católica e federal. Optei pela última, onde recebi
os graus de bacharel e de estudos superiores de doutorado em direito público.
Fui da JEC, da JUC, da AP e estudei um mês, como bolsista da AUI, na
Universidade de Harvard. Participei, ativamente, da luta contra a ditadura.
Foto
Victória Novaes
Augusto “Bala Doce” com os jornalistas Aldeci Xavier, Luís
Carlos Novaes, o Peré e Oliveira Júnior: Encontro da Imprensa do Norte de Minas
em 14 de dezembro de 2013.
Presidiu
time profissional de futebol
Em
dezembro de 1969, retornei à minha terra. Advoguei em todo o Norte de Minas e
Sul da Bahia. Presidi um time de futebol de Montes Claros, chamado Cassimiro de
Abreu, (assim mesmo, com dois esses, em homenagem não ao poeta carioca, mas a
um montes-clarense), que disputou, por dois anos, o campeonato mineiro de
futebol da primeira divisão.
Depois
fui eleito presidente da 11ª Subseção, da Seção de Minas Gerais, da Ordem dos
Advogados do Brasil por dois biênios. Paralelamente trabalhava na Reitoria da
Universidade, onde lecionei, em três Faculdades, várias disciplinas de minha
área especializada (Teoria do Estado, Política, Direito Constitucional, Direito
Administrativo, Finanças Públicas e Economia Política). Escrevia nos jornais da
terra e lancei meu primeiro livro, que é uma breve história da Faculdade de Direito
do Norte de Minas.
Fui
eleito para a Academia Montes-clarense de Letras e tornei-me titular de sua
cadeira, de nº 34. Entrei e saí da política para apoiar um conterrâneo e um dos
grandes homens que conheci em minha vida, chamado Antônio Lafetá Rebello, ao
cargo de Prefeito de Montes Claros. Fui seu líder na Câmara Municipal por
quatro anos seguidos. Renunciei ao mandato de vereador, em 1980, quando ocorreu
sua prorrogação, sem audiência popular.
Cidadão
Honorário de BH
No
início do ano de 1982, fiz concurso para Juiz de Direito e fui aprovado. Tomei
posse no dia 21 de setembro daquele mesmo ano na Comarca de Jequitinhonha, onde
permaneci por mais de quatro anos. Fui promovido, por antiguidade, para as
Comarcas de Ipanema, Pirapora (de onde me removi, voluntariamente, para a Comarca
de Betim) e Belo Horizonte. Tomei posse em Belo Horizonte em 25 de maio de
1992, onde me aposentei, também voluntariamente, como titular da 6ª Vara
Criminal, no dia 12 de agosto de 1997.
Em
1997 tive a honra de ser aprovado em concurso público e lecionar por dois anos,
Processo Penal e Prática de Processo Penal, na Faculdade de Direito da UFMG.
De
fevereiro a setembro de 1999, exerci o cargo de Procurador-Chefe da Defensoria
Pública do Estado de Minas Gerais.
Por
iniciativa do vereador Antônio Evangelista “Totó” Teixeira, Presidente da
Câmara Municipal, recebi, no dia 27 de março de 2007, o título de Cidadão
Honorário de Belo Horizonte.
Foto Oliveira Júnior
Augusto “Bala Doce” com o
jornalista Nairlan Clayton Barbosa.
Em
3, 6 e 9 de julho de 2007 recebi três homenagens, nas comemorações do
sesquicentenário de minha aldeia: a medalha “civitas” (da Prefeitura
Municipal), a medalha “personalidade ilustre” (do jornal “O Norte de Minas”) e
um diploma, outorgado pela Câmara Municipal e pela Assembleia Legislativa, na
homenagem que prestaram a todos os ex e atuais vereadores do município, em nome
dos quais, na solenidade, tive a imensa honra de agradecer.
Em
2008 tive a honra de receber a “Medalha José Carlos Mata Machado”, nas
comemorações do centenário do Centro Acadêmico Afonso Pena, da Faculdade de
Direito da UFMG.
Em
2010 fui agraciado com a “Medalha Mathias Cardoso”, do “Movimento Catrumano de
Minas Gerais.
Fui
assessor cultural da presidência da Associação dos Magistrados Mineiros
(AMAGIS) e presidente da Comissão OAB-Cultural, da Seção Mineira, da Ordem dos
Advogados do Brasil.
Em
março de 2012 fui homenageado com o “Troféu Bola Cheia”, criado pelo jornalista
Denarte D’Ávila. Em maio de 2012 recebi o "Troféu Guimarães Rosa", no
3º Festival de Cinema de Montes Claros.
Livros
Eis
os nomes de alguns livros que ele publicou: Casa do Direito (1979); Estórias do
Bala – volume 1 (1996); Estórias do Bala – volume 2 (1997); Judiciário Penal e
Cidadania (1998); Balorizonte – memórias (1999); Bala XXI (2000); Baladas
(2001); Bala 60 (2005); Nico Porreta (2009) e Vou te contar (2009). Participei
de dois livros: Éramos Felizes e Sabíamos e Amor na Zona.
PERÉ
COMENTA “O ROUBO DO PEQUI ATÔMICO”, OBRA DE AUGUSTO “BALA DOCE”
(Augusto
havia publicado, em 21 de novembro de 2014, em sua página no Facebook, um mês e
16 dias após o falecimento de Peré.)
“O
Roubo do Pequi Atômico”, de Augusto “Bala Doce”, por Luís Carlos Vieira Novaes,
o Peré
“Ao
terminar a leitura d’ “O Roubo do Pequi Atômico”, o britânico/norte-mineiro
livro de Augusto Vieira, acredito mais ainda naquela máxima de que quanto mais
o artista fala sua aldeia, mais ela se torna universal. Pois Augustão Bala
Doce, o tio Bala de meus filhos, aposta na história e nas estórias deste
“montes craro” de Deus - e de sua imaginação -, para fazer um dos relatos mais
interessantes e engraçados de nossa aldeia, mostrando como esta cidade tem
artista para tudo. Impressiona-me a relação íntima do nosso catrumano, que nos
apresenta uma história do outro lado da estória que provoca frisson. Nada é
verdade. Mas também nada é falso.
Em
“O Roubo do Pequi Atômico”, Augusto Vieira emprega humor ingênuo para alfinetar
aqueles que acham que a realeza britânica é séria, quando narra a história
fantástica do roubo de um pequizeiro que dava frutos o ano inteiro, no pomar da
fazenda “Vaca Brava”, de Sô Air.
Sô
Air, para quem não conhece, é aquele personagem da ficção verdadeira que
encontramos pelas ruas de Montes Claros. Fazendeiro amante da vida e até pai de
prefeito perfeito. Afinal, a vida nunca é onde, ensina João Rosa.
No
livro encontramos - e até tomamos uma boa cachaça Havana - com personagens
fictícios que andam ao nosso lado. Seja Jerry Alfaiate, Hildebrando Pontes,
Bené Garçom, Pedro Tinga, Sá Rita ou o pedreiro Antônio Laurencio. A vida vai,
mas vem vindo com Baiano, o agente secreto James Bom de Papo, Mata Ali, Eva
Bão, China Pau.
A
história gira em torno de um pé e do seu incrível fruto, chamado por Sô Air de
pequi atômico. E que, roído, dá um efeito... Afinal, com seus quase 90 anos,
aparentando 60 e pouco, Sô Air comparece que nem um jovem de 20 e poucos anos.
Rosa já disse: tem coisa e cousa, e o ó da raposa!
Nessa
história, sem sonhos ou fantasias, também comparecem personagens diversos.
Passam por ela gente como Chico Porras, um velho parceiro de Elthon John
naquela música de tanto sucesso; Paula Bicas, que quase foi flagrada com Hugh
Grant fazendo coisas (e cousas) em um carro. Escapou por ter deixado a festa
antes e ele ter se engraçado com Divine Brown...
Dão
um devorteio pela historia o Zé Fumaça, a rainha Betinha, o príncipe Charles,
William e Kate, David Beckham, Paul McCartney, Maria Ester Bueno e até Danny
Boyle, entre tantos outros.
Entre
peripécias, que vão de Campo Azul, no Norte de Minas, à Londres da Olimpíada,
do Café Galo ao pub Princess Louise, da rebimboca à parafuseta, do frango ao
molho pardo ao salmão defumado passando pelo arroz com pequi e carne de sol (de
dois pelos, por favor), ficamos sabendo que Betinha descerá no aeroporto de
Montes Claros no dia 27 de novembro. É, Elizabeth Alexandra Mary de Windsor, a
monarca do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e rainha de uma
porrada de lugares, estará presente na festa dos 90 anos de Sô Air. Que hoje é
Lorde da Grã-Bretanha. E tudo isso graças a observações de Peter Lund. Quem
diria?
Mas
para saber mais, vamos dar uma lida no livro do Augustão... (*com dados do acervo do escritor Augusto José Vieira Neto, o “Augustão Bala Doce”)
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