Foto Oliveira Júnior
Integrantes da 5ª
Expedição Caminhos dos Geraes na serra Campina do Bananal e área que fará parte
do Parque Estadual de Botumirim, no sábado, dia 9 de setembro.
BOTUMIRIM
(por Girleno Alencar) – A criação do Parque Estadual gera polêmica em
Botumirim. O aposentado Roque Celestino Veloso, 75 anos, que é locutor
voluntário da rádio Serrinha, a única da cidade, é tesoureiro da Comissão de
Atingidos do Parque, pois tem 22 hectares na região de São Domingos, onde cria 20
cabeças de gado, mas ficou assustado com a reunião realizada pelo IEF, no
local, e avaliou que o hectare custará R$1 mil e, ainda, não serão pagas as
benfeitorias das propriedades.
Ele
ocupa a área ali em herança do seu bisavô e não concorda com essa avaliação,
pois garante que o terreno custa R$3 mil o hectare e com as benfeitorias,
estima que tem de receber R$165 mil pelo seu imóvel. Mesmo com a seca que
castiga Botumirim, afirma que ainda existe pastagem em sua área.
Ele
está impressionado com a postura ostensiva e agressiva do IEF nesse episódio,
pois quando antecipou a avaliação do preço da terra abaixo da realidade e ainda
anunciou que não pagará pelas benfeitorias, armou as famílias, que estão
dispostas a enfrentar em defesa dos seus direitos e inclusive procurar a
Justiça se necessário. O maior absurdo, segundo Roque Ferreira, é que o IEF não
aponta como as famílias que serão atingidas irão sobreviver. Um abaixo assinado
com centenas de assinaturas cobrou o respeito ao direito dos proprietários das
terras.
O
ex-secretário municipal de Agricultura Familiar, João Walter Ferreira, 66 anos,
vendeu uma casa em Botumirim para comprar uma área de 25 hectares na região de
São Domingos onde produz couve, alface, coentro e outras espécies da
olericultura, visando complementar a sua aposentadoria. Um molho de alface ele
vende a R$1,00 na cidade. Além disso, planta feijão, milho, cenoura, mandioca,
cana, usando o que se produz para sustentar a esposa, duas filhas e netos. O
excedente é vendido na cidade. Porém, está assustado, pois se saiu da cidade
para morar no campo, teme perder sua fonte de vida e ainda com prejuízos.
O
que chama sua atenção é que entrou com pedido de financiamento no Pronaf no
valor de R$25 mil, pois pretendia comprar umas vacas e, com isso, ter leite in
natura e com o soro, produzir o queijo e ainda montar um galpão onde criaria
galinha caipira e porcos. O seu financiamento não foi aprovado e ele teme que
seja por causa do risco de ter as terras desapropriadas. Sempre acompanhado do
neto Gabriel, de sete anos, que o sucederá na profissão, João Walter afirma que
toda sua produção é orgânica, pois usa o estrume produzido pelo boi para adubar
o plantio. Afirma que a conscientização ambiental é visível: protege o roedor
Mocó, que existe em grande escala na serra próxima a sua propriedade. Por fim,
não aceita entregar sua propriedade por menos de R$150 mil, pois somente a
caixa d’água de 160 mil litros é orçada em R$40 mil. (Fonte: jornal Gazeta
Norte Mineira, edição de 11 de setembro de 2017)
***O
Jornalista Oliveira Júnior fez parte da 5ª Expedição Caminhos dos Geraes a
convite do Instituto Grande Sertão, Fundação Genival Tourinho e da Secretaria
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros.
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