PORTEIRINHA (por Daniel Cristian de Jesus Silva*) – O
município de Porteirinha, no Norte de Minas, faz parte dos poucos, dentre os
853 municípios, que já implantaram o trabalho de coleta seletiva, sendo um dos
pioneiros no extremo norte do estado. Essa iniciativa contribui com o trabalho
e vem de encontro aos anseios dos trabalhadores da coleta seletiva do município
que deixaram de frequentar o “lixão”, que passa por uma adaptação para se
tornar aterro sanitário. Para terem uma nova rotina coletando as matérias
recicláveis nas portas das residências, um novo estilo de trabalho que
simboliza mais dignidade.
Foto Daniel Cristian
Com geração de renda e trabalho
formalizado, os catadores cooperados contribuem para a sustentabilidade ao
separar materiais recicláveis.
No município, em 2008, nascia a Associação de
Catadores de Matérias Recicláveis (Ascarp), a partir da união e do trabalho de
pessoas não assalariadas, na época, composta por quatro membros. Hoje, mais
estruturada, a associação já possui espaço próprio e os catadores contam com o
apoio da administração municipal para o desenvolvimento da atividade. A equipe
cresceu e já se soma, atualmente, 10 catadores.
A senhora Alzira Maria de Jesus é uma das
trabalhadoras que compõe a equipe de reciclagem da associação. A “catadora”, de
63 anos, é mãe de 10 filhos e casada. As dificuldades financeiras foram uns dos
motivos que levaram a Alzira para a coleta. Ainda no início dessa profissão,
sendo uma das primeiras em todo o município, antes mesmo da criação da
associação, teve que enfrentar o preconceito, o analfabetismo, o racismo e a
falta de colaboração para se dedicar e desenvolver este trabalho que sempre
contribuiu para o sustento da família. “Morava em Espinosa (aqui no Norte de
Minas), de lá vim morar aqui em Porteirinha. E escolhi ir para as ruas e lixões
catar materiais por ser uma atividade que gera renda. Mas não era nada fácil.
Muita gente não importava e nem sabiam da importância do nosso trabalho”,
revela.
Pelas mãos da dona Alzira, os variados tipos de
materiais que para muitos ainda são considerados lixo, como as caixas dos
litros de leite consumido, as garrafas pets e de vidro, os papéis e os
papelões, dentre outros recicláveis, não passam despercebidos. “Nós recolhemos
tudo que os moradores deixam nos sacos da coleta seletiva. Chegando aqui no
galpão nós separamos, limpamos e destinamos para a prensa. O que não presta pra
gente, mandamos para o ‘lixão”, acrescenta.
Além da superação, a determinação e a força de vontade
diante das dificuldades são as marcas desses trabalhadores. É o caso de Isaías
Maximiano da Silva, trabalhando com a reciclagem desde 2012. Isaías, pai de
duas crianças, casado e “ex-desempregado”, encontrou na coleta seletiva uma
saída para uma nova chance de vida. “Agradeço a Deus por essa segunda chance.
Eu levava uma vida errada e não tive grandes oportunidades. Mas depois da
coleta seletiva, as portas se abriram e sou mais feliz, fazendo o que gosto e o
que dá prazer: coletar”, revela. Atualmente, ele é o presidente da entidade.
Refletindo sobre os benefícios de estudar, faz planos para o futuro, "Conclui
o Ensino Médio recentemente e iniciei o curso Técnico em Enfermagem. Meu desejo
é concluir e melhorar ainda mais na vida", vibra.
O encorajamento e a persistência pelo trabalho lhe
renderam ainda a oportunidade de ser contratado pelo Governo do Estado como
Catador Mobilizador. Essa indicação, que valoriza e reconhece o trabalho de
pessoas que se preocupam com os cuidados ambientais, objetiva a implantação da
coleta seletiva em outros municípios da região. (*Estudante do 3º período de
Jornalismo, em Montes Claros)
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