FRANCISCO
SÁ (por Alessandra Mello e Luiz Ribeiro) – “E vai piorar. Muito”, alerta o
prefeito de Francisco Sá, cidade de cerca de 26 mil habitantes, Denilson
Silveira (PCdoB), também presidente da Associação dos Municípios da Bacia do
Médio São Francisco (Amesf). Segundo ele, a barragem de São Domingos, que
abastece a cidade, está com apenas 8% de sua capacidade e a cidade já enfrenta
racionamento de água potável desde dezembro. Dia sim, dia não, parte da
população fica sem água nas torneiras. “Nosso município já ultrapassou a
situação de calamidade pública. Imagina daqui pra frente”, afirma o prefeito,
que também já decretou estado de emergência. Segundo ele, cerca de 70% dos rios
e riachos que fazem parte da Bacia do São Francisco já secaram. Mais da metade
do rebanho bovino foi vendido nos últimos meses. “Já chegamos a ter na cidade
180 mil cabeças de gado. Hoje não temos 80 mil. O pasto não existe mais”,
relata.
Na
zona rural, conta o prefeito, alguns produtores fizeram canais para coletar a
água da chuva que não veio e só perderam dinheiro. O governo do estado, segundo
ele, está retomando a construção de barragens para tentar amenizar os
problemas. Junto ao governo federal, os prefeitos, segundo ele, reivindicam a
renegociação das dívidas dos produtores rurais com os bancos federais. A
população, acrescenta, já começa a migrar para a zona urbana e muitas famílias
estão indo embora para cidades maiores, principalmente Montes Claros, cidade
polo do norte-mineiro.
Em
Capitão Enéas, cidade do Norte do estado com cerca de 16 mil habitantes, que
também já decretou estado de emergência, a economia em toda a região está
estagnada, alerta o prefeito César Emílio (PT), presidente da Associação dos
Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams). Segundo ele, 90% da lavoura foi
perdida, mais de 50 mil cabeças de gado foram vendidas no município no último
ano por falta de pasto e água para manter o gado. A pecuária leiteira enfrenta
forte crise em toda a região.
“Muitos
produtores estão encerrando a atividade leiteira, e olha que nem bem começou o
período de estiagem. Nossa preocupação maior é quando chegar o período crítico
da seca”, afirma. Emílio diz que a situação é grave em toda a região mineira da
Sudene e que o risco de faltar água para beber em várias cidades é grande.
O
prefeito de Manga, Anastácio Guedes (PT), cujo município também decretou estado
de emergência em função da falta de chuvas, disse que a seca que se arrasta há
quase quatro anos a cada dia piora mais. “Em plena temporada de chuvas chegamos
a ficar 53 dias sem uma gota”. Para ele, a solução, além da construção de
barragens, é a revitalização dos rios. “Não adianta fazer barragem se não tem
água nos rios para captar”, afirma. Segundo ele, a principal ajuda que tem
chegado até agora são caminhões-pipas para abastecer a zona rural. “Mas não tem
água para o gado e nem para a lavoura”.
Para
piorar a situação, a retração da indústria nacional já provoca queda de receita
e, consequentemente, dos repasses feitos pelos governos estadual e federal para
as cidades. De acordo com o prefeito de Virgem da Lapa, o repasse do Fundo de
Participação dos Municípios (FPM) tem atingido valores semelhantes aos de 2011.
O
decreto de emergência tem duração de 180 dias e é usado em situações de
calamidade pública para tentar resolver de maneira mais rápida os problemas
enfrentados pelos municípios. Ele facilita a assinatura de contratos e
convênios com os governos federal ou estadual e permite ainda a dispensa das
licitações para aquisição de produtos e serviços essenciais para resolver as
demandas mais importantes das cidades. A maioria dos decretos tem como origem o
excesso de chuvas, inundações, estiagem – que é o atraso do período chuvoso –
ou seca.
O
coordenador da Empresa Mineira de Assistência Técnica e Rural de Minas Gerais
(Emater) no Norte de Minas, Ricardo Demicheli, conta que em toda a região houve
venda de gado bem acima dos números registrados. De acordo com ele, com quase
quatro anos seguidos de seca, as pastagens da região não suportavam mais a
quantidade de gado. O rebanho foi reduzido de cerca de 3,3 milhões de cabeças
para cerca de 2,4 milhões. As pastagens, que já chegaram a ocupar 4 milhões de
hectares, hoje não chegam a 2 milhões.
O
Norte também enfrenta uma queda significativa da área plantada, que encolheu de
220 mil hectares para 180 mil. “Todas as barragens estão com os níveis de água
baixíssimos e a expectativa é de que faltará água potável na sede de grande
parte dos municípios, algo que nunca aconteceu antes”, afirma. Até os programas
de combate à miséria e a desnutrição no semiárido estão sendo afetados pela
seca, conta o gerente da Emater. O programa Leite pela vida do governo federal
que já chegou a distribuir 200 mil litros de leite por dia para a população
carente hoje não consegue entregar 50 mil litros. A seca, segundo Demicheli,
afetou demais a produção leiteira.
A
situação vivida pelo pequeno agricultor João Barbosa de Souza, de 66 anos,
casado e pai de dois filhos, morador da localidade de Várzea das Pedras, no
município de Pai Pedro, é o retrato da penúria causada pela seca. Ele conta que
nunca enfrentou uma a estiagem tão rigorosa como a de agora. “É a pior que já
vi na vida”, diz João Barbosa, lamentando que de meados do ano para cá, perdeu
cinco cabeças de gado, por falta de pasto. Ele contabiliza as perdas das
lavouras de milho, sorgo e feijão. Além disso, encara a angústia da falta
d’água. “Se chovesse mais, a gente poderia produzir mais alimentos e viver
melhor. Mas, do jeito que está, as coisas só estão piorando. Só Deus para ter
dó da gente”, clama o sofrido produtor. Além da ajuda divina, também reivindica
uma ação governamental para aliviar o infortúnio: a abertura de um poço tubular
na localidade onde mora.
O
superintendente técnico e operacional da Defesa Civil Estadual, major Roberto
Turbino Campolina, afirma que a situação pode ser agravar em função do início
antecipado do período de estiagem e da falta de chuvas. Para os prefeitos, essa
escassez de chuvas já dura quatro anos. “Com o início do período da seca, com
certeza aumentará a quantidade de municípios com decretação de situação de
emergência ou estado de calamidade pública”, afirmou.
Segundo
Campolina a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) está ajudando os
municípios com a burocracia necessária para a captação de recursos. Além disso,
de acordo com ele, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Integração do
Norte e Nordeste de Minas Gerais (Sednor) está construindo pequenas barragens
para captação de água pluvial e também instalando cisternas e fornecendo água
por meio de caminhões-pipa, e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana (Sedru) está perfurando poços
artesianos. O secretário da Sednor, Paulo Guedes, não foi localizado pela
reportagem para comentar a situação dos municípios. (Fonte; jornal Estado de
Minas)
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/05/18/interna_politica,648555/estiagem-poe-92-cidades-em-estado-de-emergencia.shtml
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/05/18/interna_politica,648556/ate-programa-federal-e-afetado-pela-seca.shtml
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