SECA JÁ MATOU
110 MIL CABEÇAS
Produtores
buscam ajuda para continuar atividade no Mucuri, Jequitinhonha e Norte de MG
Sandra Carvalho,
editor
Cerca de 110 mil
cabeças de gado mortas. Sem silagem, sem irrigação e sem milho subsidiado,
produtores de 46 municípios dos vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de
Minas, regiões castigadas pela seca, seguem em desespero em busca de ajuda do
poder público para continuar com a pecuária na região. O número de animais
perdidos desde 2012 pode ser superior a 200 mil.
O rebanho da
região soma 4,5 milhões de cabeças, sendo 90% gado de corte. "A situação é
calamitosa. Não há outra palavra para distinguir o que estamos passando aqui.
Sem ajuda não dá para prosseguir", afirma o presidente da Associação dos
Produtores Rurais do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha (Aspronorte),
José Aparecido Mendes dos Santos.
Segundo ele, que
representa 82,9 mil produtores, os prejuízos, que já eram grandes em 2012 e
2013, se agravaram ainda mais neste ano. "São três anos de uma seca
histórica. Todas as ajudas e programas iniciados em 2012 já se acabaram.
Estamos amargando o descaso do poder público no pior momento da estiagem",
lamenta.
Um exemplo desse
descaso, segundo o líder rural, é o corte de programas de leilão de milho para
alimentação do gado. Santos conta que há dois anos, quando começou a estiagem
ainda mais rigorosa em uma região que já é tradicionalmente seca, produtores se
mobilizaram e conseguiram sensibilizar todas as esferas do poder Executivo.
Em 2012, através
de uma ação que envolveu governos federal, estadual e municípios, a Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) repassou milho e sorgo aos produtores a
preços subsidiados, garantindo em parte o trato do gado. "Essa ação
reduziu um pouco o nosso prejuízo".
Em sete cidades
localizadas em pontos estratégicos, foram implantados pontos para a aquisição
do milho a custo mais baixo. Mas o trabalho descentralizado da companhia durou
apenas até meados de 2013, quando tais pontos foram desativados.
"Hoje, para
comprar o milho subsidiado, é preciso ir a Montes Claros, onde a Conab
centralizou os trabalhos. Mas, em relação a boa parte das cidades em situação
de emergência por causa da seca, Montes Claros está muito distante, mais de 500
quilômetros. Não compensa para os pecuaristas, cuja maioria é formada por
pequenos produtores, que tem de ir longe comprar e ainda pagar imposto".
A Conab
informou, por meio de nota, que as unidades do Programa de Vendas em Balcão
foram fechadas porque os municípios onde elas funcionavam não estão mais em
estado de emergência. A companhia acrescentou que mantém a unidade em Montes
Claros na qual oferece o grão a R$ 28,60/saca.
ICMS -
Desamparados, produtores vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas,
tiveram de vender aproximadamente 1 milhão de cabeças de gado desde 2012,
animais magros que foram comprados a preços bastante abaixo do mercado por
produtores de outros estados, segundo dados da Aspronorte. "Nessa época,
houve redução de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços), de 18% para 4% na venda de gado para outros Estados".
Mas a redução da
alíquota foi vigente até 2013. "Como o Estado inaugurou neste ano um
frigorífico para abate em Janaúba, não há mais necessidade de vender gado para
ser abatido em outro Estado. Mesmo assim, a situação está difícil, pois está
complicado manter o gado", enfatiza o líder rural.
Para piorar a
situação, cerca de 90% do sorgo cultivado neste ano para silagem se perdeu em
função da seca, que foi ainda mais rigorosa em 2014 que nos dois anos
anteriores. De janeiro a outubro, choveu cerca de 150 milímetros apenas na região,
segundo informações da regional Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
de Minas Gerais (Emater-MG).
Pecuaristas
pedem adiamento da vacinação
Diante do
cenário de seca e perdas vivido neste ano pelos pecuaristas, o presidente da
Associação dos Produtores Rurais do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha
(Aspronorte), José Aparecido Mendes dos Santos, enviou nesta semana um ofício
ao governador do Estado, Alberto Pinto Coelho, solicitando o adiamento da
segunda etapa da vacinação contra a febre aftosa na região. Os pecuaristas
temem ainda mais prejuízos em função da imunização.
"Como 90%
do rebanho das duas regiões são destinados ao corte, o gado é criado a pasto, e
o simples deslocamento até o curral para dar a vacina já significa grande perda
de peso, em média, meia arroba por animal. Como o rebanho já está bastante
magro e debilitado em função da seca, o organismo do animal não conseguirá
absorver a dose da vacina em sua plenitude, ou seja, pode não haver o efeito
esperado. Além disso, muitos animais, que estão fracos, têm febre após receber
a imunização e tememos perder mais cabeças com isso", justifica o
produtor.
Segundo o
presidente da Aspronorte, os pecuaristas querem aguardar as chuvas e a
recuperação de peso do gado para iniciar a imunização.
A Secretaria de
Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) confirmou, por meio de
sua assessoria de imprensa, o recebimento do ofício, mas ainda não há resposta
para a solicitação da Aspronorte.
"Apesar de
ser uma campanha nacional de imunização, conseguimos adiar a vacinação em anos
anteriores, através da Seapa e do IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária).
Neste ano, como a situação da estiagem é ainda pior que no ano passado e no
retrasado, esperamos contar com a compreensão das autoridades", ressalta o
líder rural.
Santos explica
que a região é considerada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) como Zona Livre da Aftosa com Vacinação. "Com um
rebanho de 4,5 milhões de cabeças, cada etapa de vacinação custa em torno de R$
30 milhões. E, como estamos há 20 anos sem registrar casos da doença, nossa
luta é para que a região seja considerada Zona Livre da Aftosa sem Vacinação.
Isso agrega valor e reduz custos para o pecuarista".
Na última semana
de outubro, choveu em torno de 12 milímetros na região, o que ainda não foi
suficiente para revigorar e brotar o capim. "Essa chuva, ainda pouca,
apenas apodreceu o capim seco. Mais prudente esperar mais para iniciar a
vacinação", completa. (Fonte: jornal Diário do Comércio)
Veja no link
http://www.diariodocomercio.com.br/noticia.php?tit=seca_ja_matou_110_mil_cabecas&id=143942
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