Foto Lincon Zarbietti
Canal de irrigação no Projeto Gorutuba, em Nova
Porteirinha, deverá ser substituído por tubulação por motivo de economia e
eficiência na distribuição de água para a irrigação.
JANAÚBA
(por Queila Ariadne) – O clima é quente e a vegetação é seca. Mas, tendo água,
o que se planta dá. O problema é que, no Norte de Minas, a água é escassa e a
agricultura precisa da irrigação, que depende da chuva para manter rios e
reservatórios cheios. Com o esvaziamento da barragem Bico da Pedra, desde maio
de 2013 o Projeto Gorutuba está fornecendo apenas metade da água para irrigação
em Janaúba e região.
O
resultado salta aos olhos, nas plantações abandonadas. “A produção caiu em
média 20%”, estima o presidente da Associação Central dos Fruticultores do
Norte de Minas (Abanorte), Jorge Luís de Souza. Segundo ele, os preços ainda não
foram afetados, mas a qualidade da fruta sim. “Ainda não estamos em crise, mas
a espada está apontada para a nossa cabeça”, diz Souza.
Sem
ter água como antigamente, a saída para muitos produtores foi deixar de lado
parte das lavouras. O produtor de banana Gustavo Lage, diretor da Banarica, em
Nova Porteirinha, deixou de plantar 70 hectares (ha). Para cada ha plantado, o
investimento é de R$ 25 mil. “Eu tinha 310 ha e reduzi para 240 ha. Estimo um
prejuízo de aproximadamente R$ 900 mil. Sem falar no que deixei de ganhar,
pois, cada ha produz em média 25 toneladas de banana. Cada ha daria cerca de
mil caixas de banana por ano, ou seja, deixei de vender 70 mil caixas”, calcula
Lage.
Ele
investiu na perfuração de poços artesianos, como alternativa para salvar a
qualidade das frutas e não perder mercado. “Num momento em que os produtores
estão ganhando menos, ainda precisam investir mais”, afirma Lage.
Do
lado da propriedade de Lage, a situação da fazenda Uvale foi ainda mais
drástica. “Eram 388 ha e tivemos que abandonar 150 ha. E ainda tivemos que
derrubar os pés, porque, se deixarmos, vira um laboratório para pragas”, conta
o encarregado Laurimar Bento dos Santos. O dono da fazenda, Juarez Carlos de
Oliveira, prefere nem contabilizar as perdas. “Se eu parar para fazer contas,
eu desanimo”, lamenta. De 150 empregados, 30 foram demitidos.
O
presidente da Associação dos Produtores Irrigantes da Margem Esquerda do Rio
Gorutuba (Assieg), Oscar Magário, afirma que a quebradeira só não foi maior
porque choveu em dezembro do ano passado. “Eu estou aqui ha 20 anos e ninguém
nunca tinha visto uma seca como essa e ninguém sabia o que fazer. Então,
juntamos os dois distritos, criamos uma comissão. Reduzimos a irrigação de seis
dias para três dias e meio. A banana estava mal acostumada e tivemos uma perda
de até 50%. Hoje, essa perda já foi reduzida para 35%”, conta.
RACIONAMENTO
JÁ DURA MAIS DE UM ANO
A
barragem Bico da Pedra recebe águas do rio Gorutuba, da bacia do Rio Verde. É
dela que dependem os projetos de irrigação Gorutuba e Lagoa Grande. O ideal é
operar com 70% da capacidade, mas atualmente está em 37% e só não está pior
porque a chuva de dezembro de 2013 deu uma sobrevida. Nesse nível, a captação
da água caiu de 5.500 l/s para 2.400 l/s. “Os canos estão à mostra. E eles só
foram vistos antes de encher a barragem, em 1979”, conta o gerente do Distrito
de Irrigação do Perímetro do Gorutuba (DIG), Ricardo Carreiro Neto. Segundo
ele, o racionamento começou em maio de 2013.
“A
Codevasf vai trocar a tubulação e fechar os canais de irrigação, para evitar
evaporação. Hoje, perdemos 40% da água que é captada, mas, com as melhorias,
nossa eficiência será de 95%”, afirma. As obras custarão R$ 93 milhões e devem
começar em outubro. (Fonte: jornal O Tempo)
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