JANAÚBA
(por Oliveira Júnior) – O município de Janaúba é campeão mineiro em educação e
vai representar o estado em evento nacional que será disputado em São Paulo. O
êxito da educação gorutubana é creditado ao desempenho de alunos e educadores
da Escola Municipal Ludovina Francisca Pereira, instalada na comunidade de
Jatobá. É dessa escola a origem do sucesso na 3ª Olimpíada de Língua Portuguesa
em que Janaúba ficou com o título de campeão da etapa estadual ocorrida em Belo
Horizonte, no dia 17 de outubro.
Coube à aluna Aline Soares Vieira, do
8º ano do Ensino Fundamental, e à professora Marciane Aparecida Costa Silva
Pereira, da disciplina de Língua Portuguesa, o excelente desempenho do concurso
que reuniu representantes de escolas públicas de vários municípios mineiros. Diante
disso, as janaubenses Aline e Marciane irão representar não só a cidade de
Janaúba, mas todo o estado de Minas Gerais na Etapa Regional da Olimpíada que
acontecerá nos dias 12 a 14 de novembro em São Paulo, competindo com Rio de
Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.
Foto Divulgação
Professora Marciane Pereira, diretora Maristela
Silveira e a aluna Aline Soares.
No texto vencedor, Aline relata sobre a vivência na
zona rural, especificamente na comunidade de Taboquinha. Baseado em estudo
feito com o avô Adão Paulino, 62 anos, a estudante Aline citou sobre os modos e
costumes dos moradores das comunidades rurais. Ela conta também a infância
vivida na roça onde o hábito é acordar bem cedo ao som do canto do galo carijó,
a dificuldades dos pais para manter a família e as travessuras dos meninos e
meninas que iam para a escola ou brincavam nos “quintais” de cada roça.
“É uma grande vitória para Janaúba, estou muito feliz
e orgulhosa”, declarou Marciane Silva Pereira ao enaltecer a importância da
olimpíada e também a dedicação de toda a equipe da escola em transmitir os
conhecimentos aos alunos de maneira a incentivá-los a enfrentar e superar as
adversidades por intermédio da criação, coragem e sabedoria. A diretora da
escola municipal Ludovina Francisca Pereira, Maristela Silveira Costa, exalta a
participação e a classificação dos representantes da escola na olimpíada.
“Parabenizo a aluna Alina e a professora Marciane pelo orgulho do sucesso
alcançado”, diz a diretora ao elogiar a comunidade escolar do Jatobá e também o
empenho e o apoio obtido junto à gestão municipal.
Na primeira edição da Olimpíada, em 2008, a escola
municipal do Jatobá também obteve êxito e participou da fase final da
Olimpíada. Em agosto do ano passado, um projeto modelo da professora Marciane Silva
Pereira trouxe à Janaúba um representante do Ministério da Educação (MEC), o
qual acompanhou de perto a trajetória dos alunos do Jatobá e escolheu a
professora Marciane entre os 25 melhores de todo o Brasil para apresentar seu
trabalho no Seminário Nacional de Língua Portuguesa, em Brasília-DF.
Apesar das dificuldades e limitações da educação
pública brasileira, sobretudo em se tratando de escolas da zona, essa escola
(do Jatobá) tem sido destaque no município e região. “Neste mês de outubro, mês
em que se comemora o Dia dos Professores, queremos, nesse bonito exemplo da
professora Marciane, parabenizar a todos os professores janaubenses pela garra
e dedicação na missão de ensinar”, declarou Maristela Silveira, diretora da
escola Municipal Ludovina Francisca Pereira.
TABOQUINHA:
LAR DE FELICIDADES
*por
Aline Soares Vieira, da Escola Municipal Ludovina Francisca Pereira, comunidade
de Jatobá, Janaúba. Texto classificado em 1º lugar na etapa mineira da 3ª
Olimpíada de Língua Portuguesa
Na
minha infância, era tudo tão bom. Quantas lembranças me invadem nesse momento.
Eu acordava bem cedo todos os dias, enquanto meus irmãos ainda dormiam. Adorava
escutar o cantar do galo carijó, soando alto no terreiro a fora, despertando a
vizinhança para recomeçar um novo dia.
Naquela
época, estudo era difícil. Nem eu nem meus irmãos estudamos, pois papai e mamãe
não tinha condições de nos colocar na escola, além disso, era tudo muito longe.
O ofício então era a lida no campo. Íamos para roça com papai aprender a ganhar
dinheiro com o próprio suor. Minhas duas irmãs caçulas ficavam em casa,
aprendendo a remendar nossas calças velhas e camisões rasgados.
O
sol do meio dia nos acompanhava até a velha casinha de adobe, famintos e
cansados. Mamãe sempre já estava com o almoço na mesa numa gamela bem grande. O
cheirinho do arroz me tomava, aumentando mais a minha fome. Arroz, feijão e
ovos mexidos, humm... Eu não trocava nenhuma outra comida pela comida quentinha
do fogão à lenha que mamãe fazia.
Depois
do almoço, descansávamos à sombra da velha mangueira. Era um ar tão puro, um
vento fresco, que dava vontade de ficar mais um pouquinho ali sentado no
toquinho torneado feito de aroeira. Mas, havia hora de voltar para a lavoura.
Saíamos em fileira, sem esquecer-se de levar na algibeira um copinho mochelado
de alumínio e uma moringa com água para refrescar a nossa tarde.
Os
dias de antigamente pareciam durar mais. Voltávamos antes do pôr-do-sol e ainda
sobrava era tempo para brincar. Minhas irmãs brincavam de bonecas feitas com
sabugo de milho e nós, meninos, com carrinhos de lata de óleo e rodinhas de tampo
de precata velho. Tudo feito por nós. Brincávamos com inocência enquanto
assistíamos papai dobrando o fumo no viradouro e mamãe escolhendo feijão. Mesmo
com muito trabalho, era muito bom ser criança naquela época...
Quando
a noite principiava, a família toda se reunia na varanda em frente de casa,
onde eu e meus irmãos ouvíamos histórias e proseávamos causos de todos os
tipos. A imensidão do olhar da lua nos observava noite a dentro...
Coisa
boa eram as festas da Igreja. Quando mamãe dizia que não podíamos ir, meus
olhos ficavam marejados de tristeza, papai intercedia e ela amolecia. Então não
perdíamos a novena e o hastear da bandeira. Roupa de domingo, pés descalços
para não sujar o sapato de festa. Caminhávamos léguas para chegar, cantarolando
modas sertanejas. Papai ia à frente tocando a sanfona com um sorriso grande no
rosto, animando a moçada. Todas as famílias da comunidade compareciam.
As
pessoas daqui de Taboquinha sempre foram simples, humildes e não eram como
esses da cidade, de nariz arrebitado e orelha em pé. Nós podíamos contar uns
com os outros, sem discórdia. Havia princípios, éramos criados com valores
passados de pai para filho.
Hoje
sei que aqueles tempos não voltam mais. É só saudade e lembrança... Mas de uma
coisa tenho certeza, seja como for, não desanimo com os obstáculos da vida. Sou
caipira, sou humilde e tenho orgulho do que sou.
(Texto
baseado na entrevista feita com Adão Paulino de 62 anos, meu avô.)
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