JANAÚBA
(por Luiz Ribeiro) – Se percorresse hoje a região da Serra da Jaíba, “o grande
chefe” Joca Ramiro, personagem de Grande sertão: veredas que nasceu por aquelas
bandas, mais precisamente em Grão Mogol, possivelmente iria corrigir Riobaldo
Tatarana, autor da frase no alto desta página, dizendo ao amigo que aquele
pedaço de terra não é mais “brabas terras vazias”. Boa parte da área foi
colorida pela fruticultura, despertando atenção de indústrias de sucos e
polpas. O município de Janaúba, de 65 mil pessoas, ostenta o título de maior
produtor nacional de bananas. Cerca de 5,4 mil toneladas do fruto saem da
cidade, toda semana, com destino a Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Distrito Federal e outros mercados.
A
fruticultura é tema da sexta reportagem da série Sertão grande, que o (jornal) Estado de Minas publica nesta semana
(a última de março de 2012). Bananas, uvas, limões, mangas e outras espécies
ganham destaque no Norte em razão de projetos de irrigação, como o Gorutuba, o
Pirapora e o Jaíba. Em 2011, as áreas irrigadas produziram 181,6 mil toneladas
de frutas, totalizando faturamento de R$ 180 milhões. A região já atrai
agroindústrias, como a Pomar Brasil, instalada na cidade de Jaíba, em 2009, e
que emprega 550 pessoas. O empreendimento produz polpas de abacaxi, manga,
goiaba, melão e maracujá, que são enviadas para indústrias de suco. A Suco Mais
também está interessada em chegar à região, segundo informou José Aparecido
Mendes, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Janaúba.
Um
dos destaques do setor é a empresa Brasnica, instalada em Janaúba e que
comercializa cerca de 60 mil toneladas de frutas por ano, tendo a banana (40
mil toneladas) como carro-chefe. “As condições (climáticas) da região favorecem
a produção de frutas de qualidade. O clima seco e quente evita o ataque de
pragas e doenças”, avalia Dailton dos Santos, gerente do empreendimento, que
gera 1,75 mil empregos diretos e conta com uma frota própria de 75 caminhões. A
área de produção é de 2,5 mil hectares irrigados.
Um
dos responsáveis pelo sucesso da fruticultura no Norte de Minas é o projeto
Gorutuba, próximo a Janaúba, onde a água chega por meio de canais que partem da
barragem do Bico da Pedra (Rio Gorutuba). Luiz Soares Santos, de 50 anos, é um
pequeno produtor da região. Dono de quatro hectares, cultiva banana, coco e
goiaba. Nesse projeto há produção de frutas nobres, como a uva, que atraiu
gente de longe. Rogério Antônio Felipe deixou Tubarão, no litoral de Santa
Catarina, há 15 anos. Ele planta uvas numa área de 10 hectares, dentro do
perímetro irrigado. A expectativa para este ano é colher 15 toneladas das
variedades niágara e benitaka por hectare. “Valeu a pena a troca (de estados).”
Nem
tudo por aquelas bandas, no entanto, é doce como as frutas. “É preciso criar linhas
de crédito menos burocratizadas. As exigências são muitas e o agricultor não
está preparado para atendê-las”, defende Genesco Rocha Souza, presidente de uma
das maiores cooperativas da região, a Cia. da Fruta. Além da falta de
infraestrutura de estradas e da baixa disponibilidade de energia elétrica em
algumas localidades rurais, ele dispara contra as barreiras ambientais: “Há
muita demora na liberação das licenças ambientais. É preciso agilizá-las”.
Alguns
projetos demoram muito a sair do papel, como o Jequitaí, nome de um dos rios
que servia de referência para a jagunçada do romance se guiar pelo sertão.
Idealizado há 40 anos, começa a ganhar forma nos próximos meses. Ao longo dos
próximos 12 meses, deve receber aportes federal e estadual da ordem de R$ 800
milhões. A previsão de área a ser irrigada é de 35 mil hectares. Já o total de
novos empregos, entre diretos e indiretos, pode somar 80 mil vagas. (Fonte:
http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/sertao-grande/noticia-sertao-grande/2012/03/30/noticias_internas_sertao_grande,286310/frutas-e-pedras-dao-nova-cor-a-paisagem-de-janauba.shtml)
Comentários